O dia começa às seis. Às seis, dizia Júlio Carlos, fartam as belas. A boutade me disse no Leme. Hoje longe como tudo. Na saída da Alliance: às seis fartam as belas. O Professor Durval nunca entendeu Duvivier afora o blablablá em que o envolvíamos. Sartre ao escrever, escrever, escrever sobre Flaubert queria matar a palavra. Júlio Carlos queria matar o Professor Durval. No início da Gustavo Sampaio deixei um entregue ao outro. Cláudia, minutos depois, perguntava se eu tinha ouvido os tiros. O verde dos olhos de Cláudia nunca me permitiram ouvir nada. Um verde definitivamente contrário a sinestesias. Soube mais tarde pelos jornais. Agora são seis no Leme. Vejo as horas como quem lembra. E, de um jeito que não ouso entender, ouço os tiros. Seis.
28/06/2008
25/06/2008
16/06/2008
11/06/2008
Revelações
- Que foi? Você tá estranha.
- Né nada não.
- Mas você mudou de uma hora pra outra.
- Que nada...
- Foi o filme? Você não gostou?
- Não, adorei.
- Foi nosso primeiro filme juntos, né? Ainda vai ter mais um monte de primeiras coisas, já pensou que delícia?
- Pensei sim.
- Poxa, Teté, você mal tá conversando. Conta o que é.
- Nada... acho que preciso ir embora.
- Ir embora? Mas a gente não ia fazer um macarrão especial, abrir um vinho?
- Eu sei, amor, eu sei, desculpa. Mas tenho que ir.
- Peraí. Você achava que tinha que ir e agora já tá calçando a sandália pra sair?
- Não é nada com você.
- Ah, Teté, nem vem com esse clichê de o problema sou eu e não você.
- Júlio. Eu sou louca por você. Faz tempo que não sinto isso tudo por alguém, mas eu preciso ir. Se não consegue entender, pelo menos aceite, por favor.
- Poxa, agora vai ficar um climão.
- Amanhã eu volto, Júlio. Só tenho que ficar um pouco sozinha, sabe?
- Mas você tá aqui faz duas horas só.
- Me leva até a porta?
- Tá. Cadê meu chinelo?
- Vem descalço mesmo, tô com pressa.
- Pressa? Agora tá com pressa? Você tem outro compromisso?
- Caramba, Júlio, pára de pensar besteira.
- Mas o que é pra pensar? A gente estava abraçadinho, vendo filme, dando uns amassos bons e de repente você quer ir embora? Sinceramente eu...
- Merda.
- Teté.
- Não fala nada, não fala nada.
- Isso foi um pum, Teté? Você peidou?
- Não olha pra mim, sai de perto.
- Teté, pára de correr, volta aqui.
- Páááára. Não venha atrás.
- Tetezinha, isso tudo é porque você quer fazer cocô?
- Eu não faço cocô, não pra você.
- Teté, pára de correr, você vai fazer na calça desse jeito.
- Tá, tá. Parei. Era isso. Queria fazer cocô. Agora você sabe e a vizinhança toda também. Que vergonha.
- Meu amor, que bobagem. To com câimbra na bochecha de tanto rir.
- Ri... ri mesmo. Que situação... cocô não combina com começo de namoro. E eu ainda soltei pum, é o fim.
-Teté, eu também faço cocô, larga de ser boba. Talvez a gente pudesse ter adiado essas revelações, mas agora a merda tá feita. Ou quase.-...quero enfiar a cabeça embaixo da terra.
- Oha pra mim. Você vai subir agora e fazer esse cocô lá no banheiro, tá?
- Tá... mas você fica longe? Não quero que escute nada.
- Juro. Vou ficar com a tv ligada, lá na sala.
- Tá... então eu vou.
- Me dá um abraço antes.
- Dou...
- Mas não peida não, hein?
(autor desconhecido)
Postado por D. Lê às 21:42:00 6 comentários